REVELAÇÃO part. 1 Escafandrista de insondado oceano Sou eu que, aliando Buda ao sibarita, Penetro a essência plasmática infinita, -- Mãe promíscua do amor e do ódio insano! Sou eu que, hirto, auscultando o absconso arcano, Por um poder de acústica esquisita, Ouço o universo ansioso que se agita Dentro de cada pensamento humano! No abstrato abismo equóreo, em que me inundo, Sou eu que, revolvendo o ego profundo E a escuridão dos cérebros medonhos, Restituo triunfalmente à esfera calma Todos os cosmos que circulam na alma Sob a forma embriológica de sonhos! part. 2 Treva e fulguração; sânie e perfume; Massa palpável e éter; desconforto E ataraxia; feto vivo e aborto... -- Tudo a unidade do meu ser resume! Sou eu que, ateando da alma o ocíduo lume, Apreendo, em cisma abismadora absorto, A potencialidade do que é morto E a eficácia prolífica do estrume! Ah! Sou eu que, transpondo a escarpa angusta Dos limites orgânicos estreitos, Dentro dos quais recalco em vão minha ânsia, Sinto bater na putrescível crusta Do tegumento que me cobre os peitos Toda a imortalidade da Substância!